quinta-feira, 14 de abril de 2016

Geografia da População Parte lll

           Em nossas postagens anteriores vimos o que é população para a Geografia e como essa temática foi-se transformando em um discurso que interessa diversas esferas da sociedade, como religião, filosofia, Estado, entre outros.

Hoje iremos falar sobre a população e os tempos modernos. 

A modernidade e o surgimento do homem estatístico

        A discussão sobre população assumiu maior relevância no século XVIII, tendo como foco os aspectos voltados para a relação entre crescimento populacional e os meios de subsistência disponíveis. Nessa direção, a natureza é vista como o "estoque de recursos"e o homem, separado dessa natureza, é um "objeto" que pode ser quantificado, transformado em números estatísticos que servem à produção e ao consumo.

Interferência do homem na natureza. Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaDe7jKJWQ12gHdRngZrfCbkYvnT7qvim-PhEpk5fKnQXBEDhWUgWoPZD2jka_MvUDCAdLMQX4W2Q5HbKka9Uo9tFwNlFvx7bMe0aR-S0bDCmbsKHY8Ht0sOOsqBH_gQU2pvqO7dSPXWD5/?imgmax=800
      
       Na visão de Rui Moreira, geógrafo brasileiro, "o homem e a natureza foram jogados numa mesma sorte"(MOREIRA, 2006, p.77), ou seja, passaram a ser "objetos" que podem ser controlados, medidos, quantificados e aprendidos por discursos e teorias que ajudam a construir visões de mundo sobre o que é o homem e a natureza, e como eles são importantes para atingir determinados fins sociais, econômicos e políticos. Nessa direção, como a Geografia adentra nesse novo panorama? O que vem a ser esse "homem estatístico"? Vejamos como ele surge e qual o seu papel nos tempos modernos.

        O "homem estatístico" emerge nos processos migratórios, na sua distribuição pela superfícies terrestre, na composição por idade e por sexo, nas definições dos critérios para entra no mercado de trabalho.

       Pense que essa disciplina pode ser considerada uma prova real da existência desse "homem". E mais, veremos que para além dos dados estatísticos, há todo um esforço de projetar o comportamento humano quanto às condições de reprodução da população. Assim, compreenderemos que há um conjunto de teorias que diagnosticam, projetam e induzem as ações das pessoas de modo a buscar o controle eficaz dos processos que envolvem a produção material e a reprodução da espécie humana.

       A modernidade herda dos clássicos greco-romanos a concepção aristotélica do homem político e do animal que fala e discursa. Isto é, o homem que se distingue dos animais por nascer dotado do poder da razão. O Renascimento altera e introduz um conceito novo, derivado por decorrência do conceito de natureza como coisa física, então criado. O homem desnaturaliza-se junto ao nascimento do conceito da natureza como parte da constituição físico – matemática do mundo. O homem não só é tirado do plano da natureza, em que até então se encontrava como animal racional, como é jogado num terreno que o afeiçoa ao mundo de tecnologia e da fábrica, cujo advento se avizinha. Com a Revolução Industrial e o surgimento fábrica, instaura-se a mecanização do trabalho e cria - se o homem – trabalhador, visto no modelo da moderna indústria como homem – máquina (MOREIRA, 2006). 

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 Meio técnico-científico-informacional. Fonte:http://fronteiras.igeo.ufrj.br/sig/img/wiki_up//alavanca_ideiasx.gif

       Com a Revolução Industrial e o surgimento da fabrica, instaura-se a mecanização do trabalho e cria-se o homem-trabalhador, visto como parte dessa engrenagem. Como o modelo funcional da moderna indústria será pedido de empréstimo ao corpo, primeiro o corpo inorgânico dos materiais e depois o corpo orgânico do homem, este passa, também, a ser visto como uma engenhosa máquina. Nesse naturalismo modernista, que expulsa o homem da natureza para inseri-lo no mundo mecânico da industria, o homem apenas difere da natureza porque, com o corpo, nele está presente o espírito.

      Podemos perceber que a modernidade se configura como um campo de força em que as ideias desenvolvidas em tempos anteriores vão sendo postas em contato umas com as outras, produzindo-se diálogos e novos significados em relação às noções de homem e de natureza. Perceba que às ideias de um homem racional, político, religioso e espiritual legadas pela Antiguidade e Renascimento, acrescentam-se outras capazes de modificar as noções anteriores. Dessa perspectiva, as noções vigentes são ampliadas e o homem passa a ser visto como um ser livre e autônomo que age e transforma o que existe no seu entorno em produtos para atender os novos desejos que são forjados em uma sociedade de consumo. Você pode estar se perguntando: o que há de novo nisso, se considerarmos que o homem sempre teve a capacidade de transformar e de criar os meios para produzir os recursos necessários à sua sobrevivência? Tal questionamento/afirmação tem razão em partes. Porém, na formulação não há a percepção da intensidade do processo e das implicações que se apresentam e que se configuram em termos espaciais, econômicos, políticos e culturais, a partir da Modernidade e da Revolução Industrial.

fonte:https://jornaldoporao.files.wordpress.com/1944/11/charge-gerdauuuuu.jpg

     De modo geral e emblemático, podemos tomar como símbolo da Modernidade a Revolução Industrial. Por meio dela, podemos compreender como o homem se transforma em máquina, força de trabalho, fator de produção, consumidor, população, conforme nos sugere Rui Moreira.

 Não se trata, apenas, do crescimento da atividade fabril. A Revolução Industrial é um fenômeno muito mais amplo, constitui uma autêntica revolução social que se manifesta por transformações profundas da estrutura institucional, cultural, política e social. E que do ponto de vista econômico, tem suas características fundamentais no desenvolvimento e utilização de um tipo de bens que produz outros bens, e, de modo geral, no incremento e emprego da técnica, ou seja, na aplicação dos princípios científicos e nas atividades econômicas. [ Eis, porque, dentro dessa concepção ampla], a industrialização está intimamente associada ao progresso e desenvolvimento, e por isso há, no mundo atual, estreita correlação entre o alto nível de vida das populações e o grau avançado de industrialização alcançados pelos países. (SUNKEL apud MOREIRA, 2006)
      Assim, é preciso compreender esse homem, observando o fazer, as crenças e os valores responsáveis por construir e sedimentar um visão de mundo ritmada pela máquina, pelo tempo do relógio e pela produtividade.

O trabalho humano passa a ser uma atividade inteiramente vinculada à maquina. Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAUoZ49Bs_vTEpBro8J87xBluN0n_TkqqxR7t7cCEXIdo7i1mjueeDTlCwpPPAYzT4p2VBzW_73xyINAWysdi4h1X7ZpKQAhRcFPSmU-_PleIwLxlyIh4MxCdAKbch3Yce3lxoDzertbA/s1600/chaplin.JPG
    A Geografia vai estudar a dimensão desse homem em sua espacialização. Assim, o "homem estatístico" , gestado na modernidade, é a essência dos estudos populacionais. Na Geografia da População, o "homem estatístico" é o componente que possibilita revelar a síntese da equação natureza versus consumo. Nessa equação, a natureza é vista como meio ou recurso a ser apropriado e transformado em produtos que servem ao consumo e à satisfação das sociedades. O homem é o sujeito responsável pela manipulação da natureza através da técnica e do conhecimento. Dessa perspectiva, a questão que se revela é: como equilibrar o crescimento do consumo dos recursos naturais, de um lado, e o crescimento da população que o consome de outro? (MOREIRA, 2006)
     Assim, é a respeito desse ser humano que muitos homens e mulheres destinaram dias e noites e estudos para formular suas teorias e visões. É o que chamamos de Teorias Demográficas e que será o conteúdo de nossa próxima postagem.

Assista ao vídeo que nos conta um pouco sobre a Revolução Industrial.
"Preste bastante atenção na relação população e consumo". 




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