terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Conceitos da Geografia: Lugar

     

   Comumente usamos o vocábulo "lugar" e "local" como se fossem sinônimos, mas não são. Para a geografia, a ideia de local relaciona-se a uma noção de cartografia, ao sentido de apontar um determinado ponto no espaço onde se encontra algo ou alguém. Por outro lado, o conceito de lugar, que possui uma localização no espaço, contém o local, mas vai muito além dele. O lugar é culturalmente definido, já o local é uma qualidade incidental do lugar, definida pela cartografia (Relph, 1976).

 O local é uma qualidade incidental do lugar, definida pela cartografia. Fonte:http://www.innovationwebgroups.com/img/blog/local-seo-services_1.jpg.pagespeed.ce_.uIMsk9LOWh.jpg



    Na Geografia particularmente, a expressão lugar constitui-se em um dos seus conceitos-chave. Ele surgiu como reação ao positivismo que promovia a dissociação homem – meio. É estudado por duas principais correntes: geografia humanística (fenomenológica) e geografia radical (adota ideias marxistas).




Definições sobre geografia humanística. Fonte:http://image.slidesharecdn.com/geografiahumanstica-teoriaemtodoemgeografia-130831113609-phpapp02/95/geografia-humanstica-teoria-e-mtodo-em-geografia-2-638.jpg?cb=1377950349




Definições sobre  geografia radical. Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKxulpjwplD3V7lObK_ciqS9BOh3lCQ1ZQuaiwGUwtpCRUhPrlDG3LWwzalV3ZTyJcHg8YuTDaEEhMaRiF1EUkAUnRB_XVBK31F4xmk80b-LVh2xKTGzYuhvQChLoNjUDY4wj1AJAq3k_9/s320/Slide4.JPG





Lugar na visão humanista


     É o lugar, principalmente, um produto da experiência humana. Tuan (1975) define lugar como sendo o centro de significados construído pela experiência. Pois é carregado de sensações emotivas principalmente porque nos sentimos protegidos e seguros, afirma Mello (1990). Entretanto, essa relação de afetividade que os indivíduos desenvolvem com o lugar só ocorre em virtude de estes só se voltarem para ele munidos de interesses pré- determinados, isto é, dotados de uma intencionalidade.



Os lugares são construídos por intencionalidades. Fonte:http://images.slideplayer.com.br/1/294688/slides/slide_44.jpg




Os limites do lugar 

    Normalmente não são dotados de limites reconhecíveis no mundo concreto. Por ser uma construção subjetiva e ao mesmo tempo tão familiarizada as práticas do cotidiano que as próprias pessoas envolvidas com o lugar não o percebem como tal. O senso de valor do lugar se faz sensível quando há uma ameaça ao lugar, como a demolição de um monumento considerado importante, por exemplo.



Demolição do antigo prédio da fábrica da Brahma na Praça Onze. Fonte:http://www.sambaepaixao.com/teste/wp-content/uploads/2011/08/demoli%C3%A7%C3%A3o-e1312916023855.jpg



Percepção homem-meio


      Relph (1976) desenvolveu duas classes de percepção dialética Homem-meio: insider (ótica do habitante do lugar) e outsider (ótica de um habitante externo ao lugar). Neste contexto, o lugar é considerado contido no espaço, onde a sua percepção variaria entre a visão do morador e a do estrangeiro ao lugar. Ele também criou o neologismo “deslugar” (placelessness) para designar as formas estandardizadas, por exemplo, os conjuntos habitacionais e alguns estabelecimentos de “comida rápida” ( fast food).




Barraca de "fast food" McDonald. Fonte:  https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ef/McDonald's-shanghai.JPG


Atitudes autênticas e inautênticas em relação ao lugar



      São denominadas atitudes autênticas aquelas em que o indivíduo tem plena consciência do teor ideológico embutido nas formas que constroem o lugar. Por outro lado, uma atitude inautêntica caracteriza uma visão alienada do lugar e a relação Homem-mundo vivida não seria plena. Exemplos dessa experiência seriam as relações mantidas entre os indivíduos e as formas universalizadas dos shopping-centers, por exemplo.




Lugar na visão marxista (ou da geografia radical)


    O lugar é tido como produto de uma dinâmica que é única, ou seja, resultante de características históricas e culturais próprias ao seu processo de formação, quanto como uma expressão da globalidade. A origem desta percepção encontra-se intimamente relacionada ao processo de expansão do modo capitalista de produção.

      Assim como as contradições internas é a principal razão de existência do capitalismo, o lugar seria o reflexo dessa ambiguidade;centro/periferia,globalização(homogeneização)/fragmentação.



MPC: modo de produção capitalista. Fonte:http://images.slideplayer.com.br/11/3139444/slides/slide_41.jpg


    Os lugares são o mundo e reproduzem este mundo de modos individuais e diversificados. São formas singulares da totalidade-mundo. Estes lugares têm deste modo, um papel de relevante importância ao propiciarem um espaço vivido "que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indaga-ção sobre o presente e o futuro" (SANTOS, 2000: 114).



Barraca da Coca-Cola na Índia. Fonte:



  Em um mundo que se encontra dominado, em grande medida, pelo estágio avançado da chamada “globalização”, em que “todos os lugares ficam vulneráveis à influência direta do mundo mais amplo” (Harvey, 2003, p. 221), o conceito de lugar se apresenta com um grande potencial para conseguirmos “aprender a lidar com um avassalador sentido de compressão dos nossos mundos espacial e temporal” (Idem, p. 219).O processo de globalização ampliaria, portanto, a participação de atores extra-locais na construção de lugares.




     Podemos afirmar,então, que  o conceito “lugar” pode nos valer de ferramenta de entendimento para a compreensão dos laços afetivos que ligam as pessoas a uma determinada porção do espaço, bem como interpretar as conexões advindas da globalização que se refletem nas formas espaciais e econômicas, que influenciam, e até modificam as formas de ser e vivenciar das pessoas no espaço geográfico afetivo, isto é, no lugar.







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